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ARTIGOS Quarta-feira, 16 de Abril de 2025, 09:24 - A | A

Quarta-feira, 16 de Abril de 2025, 09h:24 - A | A

Soraya Medeiros

O amor que cura também desconstrói: Por que isso assusta?

Soraya Medeiros
Tv Única

Você já se perguntou por que, às vezes, ao nos depararmos com um amor verdadeiro, sentimos medo em vez de paz?
Nem sempre é o amor que assusta — é o que ele desperta. O amor tem o poder de tocar nossas feridas mais profundas, revelar partes de nós que ainda não curamos, e nos convidar a ser vistos por inteiro. E ser visto, de verdade, pode ser desconfortável para quem passou a vida se protegendo da própria dor. Este artigo é um convite para refletir: será que tememos o amor ou tememos a cura que ele nos oferece?

O amor verdadeiro não é confortável. Ele é espelho, revelação, processo. Quando alguém nos ama de forma genuína, não consegue amar apenas as partes que julgamos bonitas — ama também o que escondemos, o que nos envergonha, o que ainda está em construção. E, por isso mesmo, nos sentimos expostos. Sentimos medo. Como bem disse Carl Gustav Jung, “aquilo a que você resiste, persiste”. Resistimos ao amor porque ele nos pede mudança. E mudar, muitas vezes, é doloroso.

Ao amar e ser amado de verdade, somos levados a revisitar nossos traumas, crenças e autoimagens. O amor saudável é incompatível com a zona de conforto do sofrimento conhecido. E é aí que mora o perigo: algumas pessoas preferem continuar em padrões destrutivos — relações tóxicas, rejeições recorrentes, ausências emocionais — porque, de certa forma, aquilo já é familiar. Já sabemos como sobreviver à dor. Mas a cura? A liberdade emocional? Isso é desconhecido, e o desconhecido nos desafia.

O psicólogo John Welwood fala sobre como evitamos o enfrentamento das nossas feridas ao recorrer a fugas inconscientes. No campo do amor, isso se manifesta quando rejeitamos vínculos profundos, sabotamos relações ou nos envolvemos com quem não está emocionalmente disponível. O medo não está no amor — está no que o amor nos obriga a ver.

Freud, por sua vez, chama atenção para a compulsão à repetição: esse movimento inconsciente de reviver experiências dolorosas na tentativa de dominá-las. Assim, muitas vezes escolhemos inconscientemente repetir os mesmos padrões: amar quem não nos ama, insistir em quem nos rejeita, evitar quem nos acolhe. Porque o amor que cura também exige um luto — o luto da identidade que construímos com base na dor.

Clarissa Pinkola Estés escreve que “amar é um ato de coragem”. E é mesmo. Amar é arriscar ser visto, ser tocado, ser transformado. É abrir espaço para uma nova versão de si mesmo — mais inteira, mais sensível, mais honesta. Mas para isso, é preciso atravessar o desconforto da desconstrução.

E como sabemos que encontramos um amor verdadeiro?

Quando atracamos nosso navio em porto seguro e reconhecemos o olhar do amor pelo espelho ao nos olharmos... Ou seja, ao nos ver com amor próprio, autoconhecimento e compaixão, e reconhecer nosso olhar no outro, identificamos quem nos ama. Quem ama, admira. Quem ama, cuida. Quem ama engrandece nossa alma. O amor verdadeiro não nos suprime — ele nos amplia. E sua presença nos dá paz, não medo.

Não é fácil permitir-se amar e ser amado. É uma jornada de cura e coragem. Mas é nesse processo — lento, profundo e muitas vezes silencioso — que nos libertamos das armaduras que nos aprisionam. Amar é o que nos humaniza. E ser amado, de verdade, pode ser o início da nossa mais bela reconstrução.

 

*Soraya Medeiros é jornalista com mais de 23 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. Além de sua sólida trajetória no jornalismo, é formada em Gastronomia e certificada como sommelier, trazendo uma combinação única de habilidades em comunicação, marketing e enogastronomia.

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