Adolescência já é o maior fenômeno do ano na Netflix, uma série em quatro episódios que gira em torno de um garoto de 13 anos, Jamie (Owen Cooper), que mata uma colega de sala motivado, entre outros fatores, pela radicalização online do jovem, que mergulha fundo na cultura misógina do universo incel. A produção levanta debates como cyberbullying, pressão social e responsabilidade parental, entre outros - mas, afinal, Adolescência é baseada em uma história real?
Stephen Graham, um dos criadores da série ao lado de Jack Thorne, explica que não exatamente. Ele, que vive Eddie, o pai de Jamie, já contou que a ideia veio de incidentes diversos ocorridos no Reino Unidos nos últimos anos e em uma crescente epidemia de crimes com facas. "De onde isso veio, para mim foi que houve um incidente em Liverpool, uma jovem garota, e ela foi esfaqueada até a morte por um jovem garoto. Eu só pensei, por quê?", contou Graham à revista Radio Times.
"Então teve outra jovem no sul de Londres que foi esfaqueada até a morte em um ponto de ônibus. E no norte [do país], Brianna Ghey foi atraída para o parque por dois adolescentes, e eles a esfaquearam. Eu só pensei, o que está acontecendo? O que é isso que está acontecendo?", lembrou o ator.
O primeiro caso que Graham cita foi o de Ava White, de 12 anos, morta por um garoto de 14, cuja foi preso e condenado, mas cuja identidade não foi revelada. O crime aconteceu depois dela pedir que ele deletasse um vídeo no qual ela e outras meninas bebiam.
O assassinato no ponto de ônibus seria o de Elianne Andam, de 15, por Hassan Sentamu, de 17. Ela e e uma amiga, ex-namorada do rapaz, foram encontrá-lo para uma troca de pertences após o fim do romance. Como Hassam não levou os itens da amiga de Elianne, ela puxou de volta a sacola com as coisas dele e foi esfaqueada repetidamente. Ele foi condenado à prisão perpétua.
No caso Brianna Ghey, uma jovem trans de 16 anos, ela atraída para um parque por Scarlett Jenkinson e Eddie Ratcliffe, ambos de 15 anos, e esfaqueada 28 vezes em plena luz do dia. Os dois também receberam a pena de prisão perpétua.
“Um dos nossos objetivos era perguntar ‘O que está acontecendo com os rapazes hoje em dia, e quais pressões eles sentem de colegas, da internet e das redes sociais?'", disse Graham à Netflix. “Essas pressões são tão difíceis para os adolescentes [do Reino Unido] quanto são para o mundo inteiro", pontuou o ator, que não tinha conhecimento da cultura incel e da misoginia rampante em determinados espaços da internet.
"Eu não pretendia fazer um 'hit'. Temos uma crise real acontecendo com os jovens homens hoje, e temos que começar a falar sobre isso agora. Isso afeta todos nós. Eu só queria começar uma conversa sobre isso, uma conversa real", disse Graham à edição americana da revista Rolling Stones. "Eu não sabia se as pessoas estariam prontas para falar sobre isso. Mas acho que elas estão. E espero que isso seja apenas o começo da conversa", afirmou ele.
