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ENTENDA

Caso Ana Paula Siebert: entenda os riscos do DIU fora de lugar

Esposa de Roberto Justus precisou passar por laparoscopia para retirar o dispositivo; entenda

Revista Quem
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A influenciadora digital e empresária Ana Paula Siebert, de 36 anos, surpreendeu seus seguidores no Instagram ao revelar que passou por uma laparoscopia abdominal essa semana. A esposa de Roberto Justus, de 69 anos, postou uma foto em um leito hospitalar e explicou o motivo de sua ausência na internet. "Sumida para fazer uma laparoscopia no abdômen! Não é nada grave (por sorte), mas preciso fazer para não correr riscos. Amanhã conto tudo para vocês! Hoje fiquei sob efeito da anestesia geral!", escreveu, tranquilizando seus seguidores.

No dia seguinte, a mãe de Vicky Justus, de 4 anos, contou que o próprio corpo estava tentando expelir o DIU, método contraceptivo inserido diretamente no útero. Nessa tentativa involuntária, o dispositivo chegou a perfurar seu útero e, por isso, precisou ser retirado com cirurgia.

"Já estou em casa, estou recebendo um monte de mensagem de gente preocupada", disse ela, que estava no hospital desde terça (10). "Vou explicar para vocês rapidinho o que eu fiz: uso Mirena, um contraceptivo, desde sempre. Tirei para engravidar, e já coloquei de novo", começou. "Quando você põe, tem que ficar fazendo exames de rotina para ver como é que ele está, se está na posição correta. É muito seguro, mas comigo aconteceu uma coisa muito, muito rara: o meu corpo tentou expulsar ele. Não tive muita dor -- sou uma pessoa muito resistente para a dor", justificou.

Ana Paula descobriu sobre o quadro durante um exame de rotina, quando a médica questionou se ela teria retirado o contraceptivo. "Eu falei que não tinha tirado e que, daqui um ano, já estava na hora de trocar de novo, já que dura 5 anos", relembrou, sendo surpreendida pela notícia de que o dispositivo não estava mais ali.

Ela precisou fazer um raio-x para entender onde o DIU estava e, nos exames, a influenciadora descobriu que o DIU havia perfurado o útero e parado no abdômen. "Isso é uma coisa que eu nunca imaginei que pudesse acontecer, e pode ser muito perigoso se você não pega logo, se entra no intestino... O meu estava muito próximo", advertiu.

O que é um DIU?

 

Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o DIU -- Dispositivo Intrauterino – é um método contraceptivo de longa duração com índice de falha abaixo de 1%. Entretanto, de acordo com especialistas, a eficácia do dispositivo depende do acompanhamento correto após a sua implantação a fim de verificar se ele permanece no local e funcionando corretamente. Do contrário, o resultado pode ser desde uma gravidez indesejada até a necessidade de remoção por cirurgia.

Segundo Fernanda Valente, ginecologista especialista em reprodução assistida na Fertility, unidade do Fertgroup em São Paulo, o DIU é indicado para as pacientes que não desejam engravidar durante um longo período. "O ponto positivo do DIU é que ele é um método de longa duração, ou seja, a paciente não precisa ficar se preocupando com o uso contínuo. O anticoncepcional oral pode fazer com que a paciente use de forma errada, ela pode esquecer, por exemplo, de tomar o comprimido. O DIU é mais fácil de fazer o uso correto porque não necessita do uso diário. E a eficácia, se o DIU está na posição correta, chega a ser superior a outros anticoncepcionais", explica.

 

Tipos de DIU

 

A especialista esclarece que há dois tipos de DIU: o não hormonal e o hormonal. "O não hormonal é o DIU de cobre. E o hormonal tem uma composição de progesterona, que é um tipo de hormônio, e há dois modelos no Brasil: Mirena e Kyleena", afirma. "Como libera de forma contínua a progesterona, o DIU hormonal causa algumas modificações no muco do colo uterino e também na parte interna do útero (endométrio), que dificultam a passagem dos espermatozóides pelo útero e pelas tubas, deixando o útero não propenso para a gestação", explica.

"O DIU hormonal tem uma durabilidade de 5 a 8 anos, e o DIU de cobre, a depender do modelo, dura de 5 a 10 anos. O DIU de cobre também libera de forma contínua uma substância que é prejudicial à proliferação adequada do endométrio, que não fica receptivo à gestação, e o muco cervical também é alterado, assim como a contratilidade e o muco das tubas uterinas dificultando a passagem dos espermatozóides", acrescenta.

"Os riscos estão mais relacionados com à tolerância de cada paciente ao método. Todos os métodos podem ter alguns efeitos colaterais que são individuais, podem ser maiores ou menores para cada mulher. O DIU de cobre pode, como efeito colateral, aumentar o volume de sangramento, o fluxo menstrual, e também os dias de sangramento. Algumas pacientes se queixam de mais cólica menstrual. O DIU hormonal, pelo contrário, tende a diminuir o fluxo. Muitas pacientes, inclusive, entram em amenorreia, que é a ausência de menstruação, elas param de menstruar. Mas algumas, em contrapartida, se queixam de alterações de pele, por exemplo", relata.

 

Riscos

 

De acordo com a médica, os riscos mais comuns surgem durante a inserção do DIU. "Pode acontecer de o médico não conseguir passar o DIU, se o colo do útero tiver algum grau de estenose, ou seja, se ele for mais fechado do que o habitual. Nesses casos, muitas vezes, o profissional não consegue fazer a inserção a não ser que a paciente esteja anestesiada", explica.

"Às vezes é preciso fazer uma dilatação do colo do útero e isso é feito em ambiente hospitalar. Uma outra complicação pode ser a expulsão do DIU, ou seja, o DIU se deslocar. A paciente colocou, ficou bem posicionado, mas com o passar dos meses, pela contratilidade da parede uterina, que é uma parede muscular, o DIU pode sair do seu posicionamento habitual. Algumas mulheres, inclusive, podem expulsar o DIU por via vaginal e eliminá-lo, o que tende a ser bem dolorido", afirma.

Caso Ana Paula Siebert

 

De acordo com a médica, situações como a de Ana Paula Siebert podem acontecer, mas são mais raras. "A situação da perfuração uterina é uma complicação rara, que pode acontecer no momento da inserção do DIU, ou seja, se não colocar de forma adequada, pode perfurar a parede do útero e o DIU ficar mal posicionado. Com o passar do tempo, pela contração da parede uterina, que é uma parede muscular, esse DIU pode se deslocar, inclusive para dentro da pelve, sair do útero, e ir para a cavidade pélvica. Nesses casos, onde o DIU se desloca para dentro da cavidade pélvica, da cavidade abdominal, ele precisa ser retirado através de uma laparoscopia com acesso via abdominal para retirá-lo, já que ele acaba se deslocando para uma região inadequada", esclarece.

A especialista afirma, contudo, que é possível minimizar os riscos de a perfuração acontecer. "Durante o procedimento da inserção, o médico precisa ter treinamento, uma boa prática e seguir os passos corretos da inserção, fazer as medidas do útero antes de inserir o DIU. Quando o médico tem disponível um exame de imagem com ultrassom transvaginal fica ainda mais seguro, porque ele faz as medidas por visualização da imagem do ultrassom antes da inserção. E, logo após a inserção, ele repete o ultrassom e confirma que a localização do DIU está adequada", conta.

"Outro ponto sobre complicação é que, às vezes, sempre deixamos um fio um pouco para fora do colo do útero dentro do canal vaginal para que usemos esse fio como um guia na hora de retirar o DIU. Se esse fio for cortado muito curto ou se, por um acaso, ele subir e entrar para a parte interna do útero, na hora de retirar o DIU, fazer a troca, essa paciente vai precisar de um procedimento também, que é uma histeroscopia, que é um exame no qual o médico vai com uma câmera por dentro do útero para poder, com a ajuda de uma pinça, visualizar o DIU dentro do útero e retirá-lo com a visão direta, caso ele não esteja visível no canal vaginal", acrescenta.

É motivo para pavor?

 

A médica tranquiliza as mulheres que usam DIU e se assustaram como caso de Ana Paula Siebert. "Para aquelas que usam DIU e tiveram uma boa adaptação, eu diria que sigam tranquilas porque é um ótimo método. Eu costumo indicar, porque é um método seguro, eficaz, que requer baixa manutenção, o risco de complicações é baixo. A perfuração uterina é uma complicação rara. No primeiro ano de uso, pode haver um controle mais frequente para observar o posicionamento do DIU, mas a partir daí, o controle é anual, regular, durante os exames de rotina ginecológicos", afirma.

"Se a paciente tiver alguma dor importante, dor durante a relação sexual, cólica intensa durante o uso do DIU, aí, sim, indico que a mulher procure um atendimento para fazer uma avaliação", orienta.

 

Como é feita a laparoscopia abdominal?

 

Para esclarecer sobre o procedimento pelo qual Ana Paula Siebert passou, a ginecologista Isabela Melo explica que a laparoscopia é uma técnica cirúrgica que utiliza pequenas incisões no abdômen e um laparoscópio — um instrumento que permite visualizar os órgãos internos. "Ela é considerada uma cirurgia minimamente invasiva, proporcionando uma recuperação mais rápida e um retorno ao trabalho mais precoce quando comparada à cirurgia convencional aberta", afirma Isabela.

A ginecologista e cirurgiã ginecológica, Émile Almeida, complementa que a laparoscopia é indicada tanto para cirurgias eletivas, como retirada de úteros, miomas, ovários, e laqueadura tubária, quanto para emergências ginecológicas, como torções ovarianas, gravidez ectópica e abscessos tubo-ovarianos. "Essa técnica minimamente invasiva resulta em menos sangramento intraoperatório, menor dor pós-operatória, recuperação mais rápida, menor tempo de internação hospitalar e retorno mais rápido às atividades diárias. Além disso, as cicatrizes são menores e há uma redução na taxa de infecção e nas complicações pós-operatórias", ressalta.

Isabela Melo destaca que, na ginecologia, a laparoscopia é amplamente utilizada tanto para diagnósticos quanto para tratamentos. "Ela é bastante indicada em casos de endometriose, avaliação de aderências pélvicas, tratamento de cistos ovarianos e obstrução das tubas uterinas. Com o avanço da tecnologia, essa cirurgia também é utilizada em tratamentos de miomas e até em histerectomias", explica.

Para mulheres que pretendem engravidar no futuro, a laparoscopia é uma opção segura. "Além de permitir uma recuperação mais rápida da atividade sexual, essa cirurgia minimiza os riscos de aderências pélvicas, que podem comprometer a fertilidade", explica Isabela Melo.

Émile Almeida reforça que, em casos de infertilidade feminina, a laparoscopia pode ser uma opção dependendo das condições que impedem a gravidez. Entretanto, como qualquer procedimento cirúrgico, a laparoscopia também apresenta riscos, ainda que sejam raros quando realizados por profissionais experientes.

"Os riscos mais graves incluem lesões em órgãos como intestino, estômago e grandes vasos, além de complicações como hemorragias abdominais ou peritonite", alerta Émile Almeida, explicando que há contraindicações absolutas, como pacientes com instabilidade hemodinâmica, além de fatores que podem influenciar no prognóstico, como obesidade ou cirurgias abdominais prévias.

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